Não podemos esquecer de ressaltar as irmãs Fox: Kate, então com onze anos e Margareth, com catorze. Elas deram uma contribuição memorável aos estudos do mundo espiritual, a partir do momento que passaram a ouvir sons semelhantes a arranhões nas paredes, assoalhos e móveis em sua casa, no vilarejo de Hydesville, Estado de New York. A partir daí, Kate, em sua astúcia de criança, desafiou o mundo invisível se comunicando com os espíritos por meio de estalos de dedos, no qual a resposta foi imediata. A cada estalo, um golpe era ouvido a seguir. Assim, estabelecia a “telegrafia espiritual”, acontecimento histórico ocorrido na noite de 31 de março de 1848.
Em janeiro de 2007, a revista IstoÉ fez uma matéria de capa intitulada Mediunidade Infantil – Crianças que falam com espíritos. Nesta matéria, pudemos ler como a Ciência vê estes fenômenos. A psicanalista Ana Maria Sigal, coordenadora do grupo de trabalho em psicanálise com crianças, do Instituto Sedes Sapientiae, tem a seguinte visão: "Há momentos em que a ilusão predomina e a criança transforma em real o que é apenas o seu desejo inconsciente. Ao brincar com um amigo imaginário, ela nega a solidão e cria um espaço no qual é dona e senhora. Já falar com parentes falecidos é uma forma de negar uma realidade dolorosa e se sentir onipotente, capaz de reverter a morte". Esta opinião não é unânime na medicina, pois como sabemos há médicos adeptos ao Espiritismo, tendo uma visão mais ampla e cuidando, também, do lado espiritual do paciente.
Mas, até que idade uma criança poderia apresentar a mediunidade de forma espontânea e ostensiva? Richard Simonetti, conceituado escritor e palestrante espírita, explica que “até os sete anos, antes que complete o processo reencarnatório, o espírito conserva algumas percepções espirituais e pode ter experiências de contato com o Além, sem que seja propriamente um médium. Essa sensibilidade tende a desaparecer e vai ressurgir na adolescência, se ela realmente tiver mediunidade”.
E como saber se a criança é realmente médium ou se o que ela narra é fruto de sua imaginação? Simonetti esclarece que “em princípio, é difícil definir. O melhor é não interferir, tratando com naturalidade a criança. A tendência é o fenômeno desaparecer, quer porque a criança se desinteressou em relação ao amigo imaginário, quer por que perdeu o contato com ele, a partir da consolidação reencarnatória”.
Não é sempre que uma criança médium tem visão de coisas boas, como um ente querido ou um amigo espiritual. Temos casos em que a visão é de antigos desafetos de vidas passadas, que procuram prejudicá-la em busca de vingança.
Quando a criança não é compreendida pelos pais, sendo considerada como louca, perturbada ou vítima do demônio, a situação pode se complicar, trazendo como agravante profundos desequilíbrios psicológicos e emocionais. Vale ressaltar que muitas crianças só voltam a ter uma “vida normal” quando passam a freqüentar um centro espírita, recebendo os benefícios dos passes, das palestras e do culto do evangelho no lar.
A mediunidade, em certos casos, pode ser provocada, o que não é aconselhável de maneira alguma no caso das crianças. Agnes Henriques, autora do livro Mediunidade em Crianças, escreveu em sua obra que em determinada época de sua infância participou da brincadeira do copo. Esta brincadeira tem as letras do alfabeto em pedacinhos de papel, um copo no centro, e por meio de invocações a espíritos aguarda-se que alguma entidade responda as indagações, enquanto um dos participantes permanece com a mão imposta em cima do copo que circula pelas letras. Ela conta: “Quando pequena, presenciei através de uma sessão dessas a descoberta de um assassinato. Em mim já se apresentavam indícios de faculdades mediúnicas. Eu ouvia vozes, via algumas entidades, chegava a responder quando me chamavam nominalmente. Minha mãe, sempre nessas horas, me incentivava a orar. Muitas vezes orava comigo e eu saía tranqüila sabendo que era um acontecimento normal. Eu já havia sido alertada por ela da seriedade que deveríamos estar revestidos quando no trato com os espíritos, e sempre me afastava dos meus amigos quando eles resolviam brincar com o famoso copo”.
Eu tinha uma vizinha que sempre reclamava que dormia mal, pois sua filha de 3 anos, chorava a noite toda, parecia ver algo que a assustava muito. Depois de algum tempo, convidei-a a levar sua filha no centro espírita que freqüentava. Naquela ocasião, quando a menina ia entrar na cabine de passes, ela gritava e segurava no portal com muita força. O pavor era visível em seu rosto. Toda semana ela levava a filha neste centro e até o terceiro passe a menina agia do mesmo jeito. A partir da quarta vez ela foi ficando mais amistosa, e daí por diante não mostrou mais resistência ao tratamento, passando a dormir bem a noite toda.