|
|
Tudo sobre o planeta plutão
Plutão: planeta anão
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão1
Em 24 de agosto de 2006, sete astrônomos e historiadores reunidos na XXVI Assembléia Geral da União Astronômica Internacional (UAI), em Praga, República Tcheca, aprovaram a nova definição de planeta. Assim, o Sistema Solar, que possuía nove planetas - e há menos de quinze dias estava para ganhar mais três planetas e, dentro em breve, mais outros oito, chegando a um total de vinte - passou a ter oito.
Visão panorâmica do Sistema Solar.
No dia anterior, os astrônomos haviam iniciado os debates sobre a proposta da Comissão de Definição de planeta da UAI, mas as primeiras proposições sobre a definição de planeta foram recusadas pela maioria dos participantes. Após exaustivas discussões, chegou-se à bela e efêmera classificação dos "planetas clássicos" - telúricos e gasosos - e dos planetas anões.
Os astrônomos reunidos em Praga declararam que "as observações recentes mudaram nossa visão dos sistemas planetários, sendo importante que a nomenclatura desses objetos reflitam a nossa compreensão atual. Isso se aplica em particular à definição de planeta". Em conseqüência, a UAI decidiu distribuir os planetas e os outros corpos do Sistema Solar em três categorias:
1. Planeta2 é um corpo celeste que:
a) está em órbita ao redor do Sol;
b) possui massa suficiente para que a sua gravidade, agindo sobre as forças de coesão do corpo sólido, mantenha-o em equilíbrio hidrostático, ou seja, em uma forma quase esférica;
c) tenha eliminado os corpos capazes de se deslocar sobre uma órbita próxima, ou seja, tenha a sua órbita desimpedida.
2. Planeta anão3 é um corpo celeste que:
a) está em órbita ao redor do Sol;
b) possui massa suficiente para que a sua gravidade, superando as forças de coesão do corpo sólido, seja capaz de mantê-lo em equilíbrio hidrostático, ou seja, sob uma forma quase esférica;
c) não tenha eliminado os corpos capazes de se deslocar sobre uma órbita próxima, ou seja, não tenha a sua órbita desimpedida;
d) não seja um satélite.
3. Todos os outros objetos4 em órbita ao redor do Sol, com exceção dos satélites, são denominados pequenos corpos do Sistema Solar.
Em conseqüência de não cumprirem a exigência de "ter sua órbita desimpedida", todos os objetos do Cinturão de Asteróides, assim como os mais afastados do Cinturão de Kuiper, ao qual pertence Plutão, foram excluídos da classificação de planeta e incluídos na categoria de planeta anão.
À esquerda, o Sistema Solar até a órbita de Júpiter, mostrando o Cinturão de Asteróides localizado entre as órbitas de Marte e Júpiter. À direita, o Cinturão de Kuiper, situado além da órbita de Netuno. A órbita de Plutão - mais excêntrica do que as dos outros planetas - parece cruzar o Cinturão de Kuiper quando visto de cima.
Os astrônomos também integraram, ao grupo de planetas anões, Ceres - uma bola rochosa que ultrapassa os 800 km de diâmetro e não cruza os confins do Sistema Solar como Plutão, Caronte e Eris, mas se encontra entre os planetas Marte e Júpiter, onde giram milhares de asteróides, dentre os quais, alguns de forma esférica.
Em 7 de setembro de 2006, o Centro de Pequenos Planetas (Minor Planet Center - MPC) - organização oficial responsável pela coleta dos dados relativos aos asteróides e cometas no Sistema Solar - designou Plutão pelo número 134340. Assim o seu nome oficial passou a ser (134340) Plutão, o que reforça a decisão da UAI de incluí-lo na nova categoria de planeta anão do Sistema Solar.
Os satélites de Plutão - Caronte, Nix, Hydra -, considerados parte do mesmo sistema, foram designados com os números 134340I, 134340II, 134340III, respectivamente.
Plutão e seus satélites Caronte, Nix e Hydra.
Outros notáveis objetos transnetunianos recentemente descobertos no Cinturão de Kuiper, como 2003UB313, 203FL61 e 205FY9, receberam os números 136199, 136108 e 136472, respectivamente.
O objeto 2003UB313, informalmente conhecido como Xena, recebeu o nome oficial de (136199) Eris, em homenagem à deusa da discórdia na mitologia grega. O astrônomo norte-americano Michael E. Brown, responsável pela descoberta desse novo objeto em 2003, justificou a designação ao recordar que sua descoberta deu origem à revisão do status de Plutão. O satélite de Eris, também descoberto por Brown, foi denominado oficialmente Dysnomia, a filha de Eris.
A decisão da UAI de redistribuir os planetas e os outros corpos do Sistema Solar implica a futura elaboração de dois novos catálogos de planetas anões - o primeiro irá incluir os objetos transnetunianos, como Plutão, e o segundo irá reunir objetos como Ceres, que também foram classificados como planetas anões -, sugeriu o astrônomo norte-americano Brian Marsden, diretor emérito do MPC.
Desde que foi descoberto nos confins do Sistema Solar, em 1930, ou seja, há quase 80 anos, Plutão foi motivo de discussões com relação a sua classificação como planeta.
No entanto, logo depois de sua descoberta, as dimensões de Plutão foram superestimadas de tal modo que, num certo período, os livros didáticos registravam que o menor planeta do Sistema Solar era Mercúrio. Todavia, sabe-se hoje que Mercúrio é de dimensões muito superiores às de Plutão.
Aliás, as diferenças existentes entre Plutão e os planetas clássicos já naquela época não permitiam a sua fácil integração à família dos planetas. Com efeito, Plutão não é rochoso como Mercúrio, Vênus, Terra e Marte, os quatros planetas mais próximos do Sol, nem um gigante gasoso como Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Na realidade, Plutão é um astro deserto e gelado, cujo diâmetro de cerca de 2 300 km é inferior em mais de 1 000 km ao da Lua, satélite natural da Terra. Ao contrário do que ocorre com os oito planetas clássicos, que descrevem órbitas quase circulares, Plutão descreve uma trajetória muito elíptica, e o plano da sua órbita é muito mais inclinado em relação às deles.
A classificação de Plutão como planeta foi um equívoco justificável, pois na época de sua descoberta não havia recursos tecnológicos que permitissem observar a região onde se encontrava. No entanto, como ocorreu com Ceres, que, descoberto em 1801, foi inicialmente conhecido como planeta e, mais tarde, com as sucessivas descobertas de outros na mesma região, passou a ser designado como asteróide ou planetóide, logo que outros corpos celestes começaram a ser localizados em suas vizinhanças, Plutão também poderia ter sido reclassificado.
Tamanhos relativos dos principais objetos do Cinturão de Kuiper conhecidos até meados de 2001.
Tamanhos relativos dos principais objetos do Cinturão de Kuiper conhecidos até meados de 2005.
Apesar de o astrônomo norte-americano de origem holandesa Gerald Kuiper ter previsto, por volta de 1950, a existência de um cinturão de asteróides além da órbita de Netuno, só a partir dos anos 1990 foi possível descobrir uma série de corpos celestes nessa região. Daí a razão de uma retificação tão tardia.
Convém assinalar que a própria definição de planeta é polêmica. Já existe na comunidade internacional dos astrônomos uma oposição à definição adotada, em especial ao item 1. c), referente à condição de a órbita estar desimpedida, pois existem asteróides que cruzam a órbita terrestre, como os asteróides troianos na órbita de Júpiter.
1 Astrônomo, membro de três comissões da União Astronômica Internacional (UAI): de Estrelas Duplas e Múltiplas; de Asteróides e Cometas, assim como de História da Astronomia. Criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins. Autor de mais de oitenta livros, entre eles Sol, energia do terceiro milênio, da Scipione. Consulte a homepage: .
2 Os oito planetas são: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.
3 De acordo com a nova definição, Plutão é um planeta anão. Ele também é identificado como protótipo de uma nova categoria de objetos transnetunianos.
4 Aqui estão incluídos a maior parte dos asteróides, a maior parte dos objetos transnetunianos, os cometas e todos os outros corpos do Sistema Solar.
|
|