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Origens
Isabel era filha do rei Pedro III de Aragão e de Constança da Sicília. Por via materna, era descendente do grande Imperador Romano-Germânico Frederico II, pois o seu avô materno era Manfredo de Hohhenstauffen, rei da Sicília, filho de Frederico II. Teve cinco irmãos, entre os quais os reis aragoneses Afonso III e Jaime II, para além de outro monarca reinante, Frederico II da Sicília. Para além disso, por via materna estava também relacionada com a sua tia Santa Isabel da Hungria, também considerada santa pela Igreja Católica.
Casamento
Casou-se por procuração com o soberano português D. Dinis em Barcelona, aos 11 de Fevereiro de 1288, tendo celebrado a boda ao passar a fronteira da Beira, em Trancoso, em 26 de Junho do mesmo ano. Por esse motivo, o rei acrescentou essa vila ao dote que habitualmente era entregue às rainhas (a chamada Casa das Rainhas, conjunto de senhorios a partir dos quais as consortes dos reis portugueses colhiam as prebendas destinadas à manutenção da sua pessoa, e entre as quais se encontravam, por exemplo, as vilas de Óbidos, Alenquer, Torres Vedras, bem como outras povoações da região hoje conhecida como Oeste).
O rei não lhe teria sido inteiramente devotado, e parece que visitaria damas nobres para os lados de Odivelas. A rainha, ao saber do sucedido, ter-lhe-á apenas respondido: Ide vê-las, Senhor. Com os tempos, de acordo com a tradição popular, uma corruptela de ide vê-las originou o moderno topónimo Odivelas (versão, contudo, que não é sustentada pelos linguístas).
Apesar de tudo, Isabel parece ter sido muito piedosa e passou grande parte do seu tempo em oração e ajuda aos pobres. Por isso mesmo, ainda em vida começou a gozar da reputação de santa, tendo esta fama aumentado após a sua morte.
As rainhas de Portugal contaram, desde muito cedo, com os rendimentos de bens, adquiridos, na sua grande maioria, por doação. D. Isabel de Aragão recebeu como dote, em 1281, Abrantes, Óbidos e Porto de Mós. Posteriormente deteve ainda os castelos de Vila Viçosa, Monforte, Sintra, Ourém, Feira, Gaia, Lamoso, Nóbrega, Santo Estêvão de Chaves, Monforte do Rio Livre, Portel e Montalegre, para além de rendas em numerário e das vilas de Leiria e Arruda (1300), Torres Novas (1304) e Atouguia (1307). Eram ainda seus os reguengos de Gondomar, Rebordões, Codões, para além de uma quinta em Torres Vedras e da lezíria da Atalaia.
Rainha da paz
Na década de 1320, o seu filho e herdeiro, Afonso IV de Portugal, sentindo em perigo a sua posição em favor de um filho bastardo do rei Dinis, também chamado Afonso, declarou abertamente a guerra a seu pai, chegando-se quase à luta na peleja de Alvalade. No entanto, a intervenção da rainha conseguiu serenar os ânimos – pela paz assinada em 1325 nessa mesma povoação dos arredores de Lisboa, foi evitado um conflito armado que teria ceifado muitas vidas inutilmente.
Pouco depois da morte do marido, Isabel recolheu a um convento de clarissas em Coimbra (Santa Clara-a-Velha) vestindo o hábito de Clarissa mas não fazendo votos (o que lhe permitia manter a sua fortuna usada para a caridade). Só voltaria a sair dele uma vez, pouco antes da morte, em 1336. Nessa altura, tendo Afonso declarado guerra ao seu sobrinho, o rei de Castela, Afonso XI, filho de Constança, infanta de Portugal, e, portanto, neto materno de Isabel, pelos maus tratos que este infligia à sua esposa D. Maria (filha do rei português), a rainha Santa Isabel, não obstante a sua idade avançada e a sua doença, dirigiu-se a Estremoz, onde mais uma vez se colocou entre dois exércitos desavindos (entre o seu filho e seu neto materno) e de novo evitou a guerra.
Falecimento e legado
Isabel faleceu pouco tempo depois, em Estremoz, em 4 de Julho de 1336 tendo deixado expresso em seu testamento o desejo de ser sepultada no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, (onde hoje em dia, após ter estado por 400 anos parcialmente submerso pelo Mondego, decorre uma escavação arqueológica.) Sendo a viagem demorada havia o receio do cadáver entrar em decomposição acelerada pelo calor que se fazia, e conta-se que a meio da viagem debaixo de um calor abrasador começou o ataúde a abrir fendas e por elas escorria um líquido, que todos supuseram provir da decomposição cadavérica. Qual não foi, porém a surpresa quando notaram que na vez do mau cheiro esperado saída do ataúde um aroma suavíssimo. O rei Dinis, seu marido, repousa em Odivelas no Convento de São Dinis.
Foi beatificada pelo Papa Leão X em 1516, vindo a ser canonizada, por especial pedido da dinastia filipina, que colocou grande empenho na sua santificação, pelo Papa Urbano VIII em 1625. É reverenciada a 4 de Julho, data do seu falecimento.
Com a invasão progressiva do mosteiro de Santa-Clara-a-Velha de Coimbra pelas águas do Mondego, houve necessidade de construir um mosteiro novo (Santa-Clara-a-Nova) no séc. XVII, para onde se procedeu à transladação do corpo da Rainha Santa. De notar que o seu corpo se encontra incorrupto até hoje no túmulo de prata e crital mandado fazer depois da trasladação para Santa Clara-a-Nova.
No século XVII, a Rainha D.Luísa de Gusmão, Regente em nome de seu filho D.Afonso VI, transformou em Capela o quarto em que a Rainha Santa Isabel havia falecido no castelo de Estremoz.
Actualmente, inúmeras escolas e igrejas ostentam o seu nome em sua homenagem. É ainda padroeira da cidade de Coimbra, cujo feriado municipal coincide com o dia da sua memória (4 de Julho).
Descendência
Do seu casamento com o rei D. Dinis teve dois filhos:
Poesia da lenda do milagre das rosas
Ao Padre-Santo pediu O Senhor D. Manuel Que lhe confirmasse Santa A Rainha D. Isabel
Esta rainha tão santa Mulher de El-Rei D. Dinis Só fez por servir a Deus E ele fez quanto quis
Todas as suas esmolas Só em secreto as dava E uma vez que escondidas No regaço as levava
Um cavaleiro privado A El-Rei a delatava E o soberano cobiçoso Acorreu e perguntava:
- Que levais aí, senhora Nesse regaço tamanho?
- Levo cravos e rosas Que outras coisas não tenho.
- Nem sequer há maravilhas Menos cravos em Janeiro Ou serão esmolas essas, Ou isso será dinheiro?
A Rainha não falou Só o regaço abriu E eram cravos e rosas Que outra coisa não se viu
A nossa Rainha Santa Outros milagres obrou A uma cega deu vista A outra muda falou Outra que não tinha leite O seu filhinho aleitou
E com tamanhos milagres, Santa, bem Santa ficou!
Curiosidade
Alfredo Marceneiro dedicou-lhe um fado com letra de Henrique Rego : Rainha Santa